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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O UNICÓRNIO VIOLETA

                                                                                                            
 Quando ele descobriu que tinha um só chifre e era violeta, seu mundo desabou. Já não era criança. Nem adolescente. Estava todo em transição. E deu até dó! Anemia. Bulimia. Disritmia e outras ias...
Não se sentia confortável entre os equinos, muito menos, caprinos... Tão pouco se enquadrava entre os demais animais de dois chifres.
Restava sempre sozinho, embora fosse o alvo principal dos demais grupinhos. Para piorar, seu pai lhe deu as costas. E sua mãe, não dava respostas.
O tempo foi passando e ele foi suportando até quase adoecer.
Seu violeta escureceu. E o chifre, dentro de um chapéu, escondeu... Foram anos e anos restrito aos quintais, na cidade dos bichos iguais.
Quando enfim virou adulto, preferiu sentir dor, mais do que a solidão. Cortou seu único chifre, duro e azulado, e seus pelos pintou de marrom.
Arrumou depressa um emprego. Casamento. Conta no Banco e cartão. E assim viveu por muitos e muitos anos...
Só depois de velhinho, quando a internet naquele vilarejo chegou,
é que ele foi descobrir... 
Há poucos quilômetros dali, numa cidade grande, de prédios gigantes, luzes, teatro e cinema ... viviam livres e felizes, milhares de unicórnios! Dourados, vermelhos, verdes, amarelos, violetas...
Que triste. Que tarde...




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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

AUSENTES PRESENTES


A saudade é sorrateira. É fera. Vem quando a gente menos espera. É feito criança malcriada que passa e abre a gaveta que estava lá dentro, trancafiada. Depois sai correndo deixando escorrendo a saudade e as lembranças profundas e empoeiradas.

Muitas vezes me emocionei com a música que meu irmão mais velho gostava. Era uma dos Beatles, que ele muito mal cantarolava. Com todas as notas semitonadas. Soava linda nos meus ouvidos. Agora, é só uma saudade desafinada... 

Do meu pai lembrei ontem no meio do almoço pedindo um pedaço de pão. Seu sotaque italiano insistia em falar “pon”.  Entalou minha garganta e meu coração. E assim a saudade vai pegando a gente. Pega no caminho. Pega no cantinho. Pelos colarinhos...

Este ano, foi no canto final da sala, montando a árvore de natal. Com as mãos hesitantes e a voz meio rouca. Em cada bolinha presa, uma lembrança solta... O sorriso da vovó e seu vestido florido. O presente repetido que a tia reembrulhava e trazia todo ano. O drink azul da cunhada, com curaçao, quanta magia... E as risadas, exageradas, da criançada. A gente não se dava conta como era boa aquela zorra toda!

E no final da nostálgica montagem, a árvore ficou pronta! Mas antes de ligar as luzes, depois de um suspiro profundo da alma, veio um instante de calma e a constatação. Doída e reticente... 
A cada ano, mais lembranças, menos entes... Mas, ainda tão presentes!


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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

NEM LENÇO, NEM DOCUMENTO...

 
 
Tenho pavor de documentos. Procurar documento. Perder documento. Tirar segunda via de documento. Ou precisar de um documento urgente, do qual nunca imaginei precisar na vida.

Pavor, sim! E pelos mesmos motivos, tenho um certo pavorzinho de orgãos públicos... Nunca consegui nada de primeira. Sempre falta um documento! Geralmente antigo, que vem do nada e nos pega despreparados. Como assim? Comprovante de endereço do primeiro emprego do meu pai? Começo a estremecer...

Eu já passei por INSS, Receita Federal, Poupatempo e mesmo com muita experiência no assunto, ainda me bate o desespero. Só depois de semanas em agonia, sem saber por onde começar, é que volto ao local para pedir mais informações. Em geral, um outro funcionário, agora gentil,  me diz que existe uma alternativa mais fácil...

Já chorei de raiva e de alegria. E também já desisti de tudo. Por esta razão, também não sou fã de crediários. Esses das lojas famosas. Basta uma comprinha parcelada sem juros e pronto. Lá vem o cadastro malfadado. Com todos os documentos desencavados.

Mas não foi nada disso que aconteceu semanas atrás. Aliás, foi bem diferente. A loja era de portas e guarnições de madeira. Há uns cem quilômetros de São Paulo. A porta cobiçada era  maciça. Linda. Bom preço. Mas não aceitavam cartões.

O dono da loja percebeu nossa situação. Pegou uma caneta esferográfica e perguntou onde ficava o condomínio. Pode falar o endereço. Eu mando levar... Mas não temos como pagar. Paga depois! Semana que vem não vamos vir...  Paga daqui a quinze dias. Quer os nossos documentos?  Nada. O telefone basta.

Voltamos para casa maravilhados. No dia seguinte, o pedreiro nos informou que a porta chegou e que até já estava colocada. Passamos na loja quinze dias depois para agradecer o gentil dono, tomar um café e fazer o chequinho. Ao invés de preencher 2016, deu vontade de trocar para 1916!

Quem podia imaginar... Nem lenço, nem documento.
Foi no fio do bigode!      

          
 
 
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                                   Crônica  do livro Inesplicando Vol.1

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

UM LUGAR CHAMADO BICHINHO

                                                                                     
É lá que os artesãos se reproduzem. Aos montes. Feito bichinhos! São, na maioria, locais que aprenderam a profissão e um jeito de sobreviver com arte. Entocados em seus ateliês e oficinas instaladas em casinhas antigas. Muitas, feitas de adobe, um tipo de tijolo natural que mistura palha e barro. É lá que o ferro de Minas se transforma em flores artesanais e a madeira de demolição vira quadros de arte e móveis geniais nas mãos dos criativos artesãos. 

Foi assim, com a ajuda destes artistas, que Bichinho se reergueu depois da febre do ouro e da sua derrocada. Definitiva. Mas a história daqueles tempos cruéis insiste em continuar viva...  

Bichinho é homenagem a Vitoriano Veloso. Escravo alforriado. Alfaiate morto cruelmente durante a inconfidência mineira. Parece mesmo que seu espírito continua por lá e vagueia nas tardes lentas, no local da emboscada... 

A história vai cruzando toda a cidade, adentrando as igrejinhas barrocas e seguindo pela Estrada Real. Caminho de terra e de pedras. Tudo muito natural. Com direito a vista panorâmica que nos dá a dimensão do tamanho e da beleza das paisagens mineiras, entre Prados e Tiradentes. É lá entre as duas que está Bichinho. Pequenina. E grande, na riqueza da arte! Mas visitar Bichinho, como demora... 
É impossível comprar algum artesanato sem gastar meia hora de prosa com quem por ali estiver. E se tiver uma cachaça... Aí é desgraça.
Na primeira parada, olhamos alguns objetos em decapê e lá se foram quarenta minutos falando sobre o ninho de pardal que apareceu no ateliê. Com direito ao vôo dos filhotinhos por cima de nossas cabeças. Em outra oficina, mais prosa com o artesão que contou de suas invenções, suas vendas e doenças. Trocamos endereços e dicas de remédios. Tudo lento, mas sem tédio!

E já era hora de almoçar. Tutu, couve e torresmo! Forno a lenha. Panelas de barro a fumegar... E mais uma vez, a estrada Real à nossa frente, com direito a uma rádio local tocando músicas do tempo imperial. Trilha ideal.
E foi no meio da estrada repleta de história, liberdade e sangue... de pedras reais, terra seca e rachante que a coincidência se deu... Um bichinho pequenino e inconsequente cruzou a frente do nosso carro com a calma de quem não tem medo, nem pressa de chegar... 
Foi atravessando a estrada, seguindo sua caminhada. Tivemos que frear. 
Eta bichinho! Justo em Bichinho...
Tinha que
 entrar para a nossa história!




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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O SEGREDO DO NAGAO

    
O jovem repórter não deve ter entendido a resposta daquele alegre e curvado senhor japonês ao ser questionado sobre o por quê de suas árvores serem as mais belas. Havia tantas árvores semelhantes naquele lugar. E da mesma espécie!

Afinal, Sr. Nagao, qual o segredo? Todo dia! Respondeu o velhinho. O repórter insistiu. O senhor rega as árvores todos os dias. Mas deve ter algo especial. Por que as suas árvores são maiores e mais floridas? Todo dia! O segredo é todo dia! Sr. Nagao respondeu novamente. Mas não tem uma fórmula secreta? Uma vitamina especial? E o velho insistia com um sorriso paciente e milenar...  Todo dia. O segredo é todo dia!

O repórter desistiu, imaginando que o velho japonês não tivesse entendido a sua pergunta. Ou talvez, compreendesse melhor outra língua...

Confesso que eu também, com vinte e poucos anos e sem ainda ter plantado as inúmeras árvores que plantei, não teria compreendido o mestre Nagao. Nem o alcance da sua simples frase.

Mas depois de muitos invernos. Das formigas que apareceram do nada e destruíram as folhas mais fresquinhas. Depois do vento forte que chegou de repente e quebrou os galhos repletos de florzinhas. Dos fungos que puseram abaixo um limoeiro em apenas três dias. E até mesmo da criança arteira que retirou todas as frutas, ainda verdes e azedinhas...

Entendi que é preciso água, sol, adubo. E mais que isso. O olhar, atento. Todos os dias...
O segredo, é todo dia!                                                                                    O Sr. Nagao sabia.           

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                   *                         *                          *                        *

                     OBRIGADA PELA VISITA!

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

GOSTO MUITO DE TE VER...

                                                 
Sempre tive medo de leões. O olhar de poucos amigos. O rugido assustador. A mordida fatal. Mas não deste leão. O leão da praia. Leão de cimento. Estátua tão amiga quanto antiga. Reinando no meio do jardim... 

Impávido e sereno, o leão da praia está lá há mais de setenta anos. Assistindo a chuva, a ressaca, os fortes ventos. A noite nublada, a madrugada estrelada e os primeiros raios da manhã...

Mas é no destino de estátua, pesada e dura, que sinto toda a ternura. Fico imaginando o brilho no olhar de cada uma das crianças. Milhares delas, ao longo de tantos anos, com sorrisos iluminados, erguidas pelos pais para o grande momento: montar o rei das selvas e com as mãozinhas pequeninas afagar a grande juba de cimento! 

A alegria perpetuada nas fotos dos filhos, que já se tornaram pais, e já levaram seus netos e bisnetos e tantos mais... O leão da praia mora na lembrança de todos nós, crianças, de todas as gerações. 

Mas foi numa dessas noites de luar, feitas para poeta se apaixonar, que vi, ali, em frente ao leão da praia, um louco solitário, insistente e comovente a cantarolar... -Gosto muito de te ver, leãozinho! De tocar sua juba...

Talvez ninguém tenha percebido o seu canto e todo o seu desatino. Mas o Leão, ciente da sua função, escutava calado, aquele louco desvairado que só queria encontrar alguém no caminho... 

E eu, que já desconfiava destas estátuas antigas, agora tenho certeza. Elas escutam os loucos. As crianças. E as cantigas! 

                            

       
     *                              *                             *                                *                             *


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

JURAS DE JURERÊ


                                                                
Difícil não se apaixonar em Floripa. Por Floripa.
Lindas praias, luar. E um tempo mais lento pra sonhar...
Floripa da Lagoinha, rústica e bela
e do riso das crianças, na praia de Daniela.

Dos surfistas apressados para o sol e o mar,
se a praia, Brava, deixar.
Das areias gritantes da praia Mole
e com um pouquinho de sorte,
o melhor pôr do sol na praia do Forte!
Floripa das ostras fresquinhas de Ribeirão da Ilha,
ruas estreitas, restaurantes, famílias...
Das dunas de Joaquina, rendeiras e mãos divinas.

De Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui.
Casas portuguesas, com certeza, aqui e ali!
Floripa do Mercado Municipal.
Do cooper na Beira Mar e coisa e tal...

E o tempero de sol e sal
da praia do Campeche.
Do Pântano do sul e da Solidão.
Dos bilhetes do Bar do Arante
e o pastel de berbigão!
Pra quem tudo vê com o coração,
uma lagoa de paz,
na Conceição...

Difícil não se apaixonar em Floripa.
Por Floripa e por alguém...
Foi lá que o manézinho da ilha,
pobre de se ver,
conquistou o coração
da menina rica de Jurerê.
E foram juras e mais juras...
Juras no mar. Juras ao luar.
Juras de amor de mil anos.
Juras com sotaque açoriano.
Juras, do Jurerê
... até a Hercílio Luz!

E os dois seguiram pela ponte iluminada,
de mãos dadas,
O manézinho e a sua amada.
Sem pompa, sem mistério, nem separação.
Só amor, luz e paixão.
E as juras de Jurerê
sempre serão ouvidas no meu coração.
Porque esse romance
nobre-plebeu, se deu,
apenas na minha imaginação.

Ah... Floripa!


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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

RESENHA DO MÊS: "O POETA DA MADRUGADA"

         
 
                    Tu vens! Eu já escuto teus sinais...

Foi com essa melodia na cabeça e a secura de quem espera água no sertão, que aguardei o “Poeta da madrugada” chegar em minhas mãos, rasgando o envelope do correio com o carimbo e a "anunciação": Alceu chegou!     

Não veio numa manhã de domingo. Nem ouvi o anúncio nos sinos das catedrais. Chegou numa segunda. Veio de Portugal. E inspirada no poeta, aproveitei a noite de lua cheia e devorei feito onça pintada, folha por folha, a poesia Valenciana em forma de música que encantou e ainda encanta o Brasil.

Conheço a maior parte da obra musical de Alceu Valença, afinal foram trinta anos de trabalho em rádio e confesso que não me surpreendi. Seus poemas soam como música. Tem melodia interior. Às vezes, um galope leve e elegante nas areias do agreste. Às vezes, cavalo sedento em disparada. Alceu impõe ritmo aos versos e passeia por diferentes universos. Vai do popular ao erudito. São recorrentes temas como o vento, a saudade, a solidão e o tempo.

Uma constante travessia, do real à utopia. Cantando amores e seus dissabores. Versos com ritmo pulsante. Dá vontade de ler cantando! 

A primeira parte do livro é quase biografia.  A estrada, sua sina...

        “ Aonde é que tu vais, senhora estrada/ Companheira fiel do meu destino...

Depois, retratos da terra natal, São Bento do Una, de Recife e Olinda... O amor às suas raízes...

         “O sol acorda São Bento/ De modo tão desatento...

         “Minha Recife adorada/ Ficaste em mim incrustada
          Como jóia que se guarda...

         “Olinda/ Tens a paz dos mosteiros da Índia...

          "Tu és linda pra mim és ainda/ Minha mulher”...    

E Alceu segue viagem. Rio, Paris e Lisboa...

         “Morena de Copacabana/ E meu olhar estrangeiro

          Toda cidade no cio/ Ah, meu Rio de Janeiro”...

          “Dizem que moro em Paris/ Quase chego a acreditar

          Aqui moro e não moro/ O meu verbo é transitório”...

          -“Ah Lisboa, tua noite me comove!!!/ O meu berro cruza o Tejo

           e o Atlântico.... Chega a bares de Recife e de Olinda...

Na segunda parte do livro, o poeta que cantava as cidades, fala agora sobre o tempo e as horas. E nos arrebata com a solidão que devora...

          “... é prima irmã do tempo/  que faz nossos relógios caminharem lentos”...

No final do livro, um presente de Alceu:  Romance da Bela Inês, um poema, que eu tola, pensei que fosse meu!

O livro de Alceu Valença deixa os seus sinais.

          “escrevo sobre o nada, pelo simples prazer de escrever...

Suave e gostosa leitura, Poesia pura derramada em setenta e três poemasescritos de 1967 até 2014. Vale a pena se entregar ao Poeta da Madrugada! Porque tem a cara de Alceu Valença. Poesia com baião e embolada. Pernambuquice desenfreada. Frevo com forró, bumba meu boi e mulher amada... 

Tudo no livro é poesia e melodia ritmada. Tudo Alceu! Ou, ao nosso... dispor! 

            *            *         *         *


               

Obra: O Poeta da Madrugada – Editora Chiado Books

            Autor: Alceu Valença

            Data de publicação: Janeiro de 2015

            Número de páginas: 108

            Coleção: Prazeres Poéticos

            Gênero: Poesia

           https://www.chiadoeditora.com/

           https://www.facebook.com/ChiadoEditora

 c

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

É NA RUA JAVARI?

 
                                                                                         
Vendo um jogo de semifinal da Champions League na tevê. Mais de cinquenta mil torcedores no Camp Nou, quando minha mãe, do alto dos seus oitenta anos, me perguntou: onde é esse jogo? É na rua Javari?
 
Respondi carinhosamente que não, enquanto invadiam minha alma, as doces lembranças da Moóca antiga e em minha boca eu podia sentir a doçura dos cannolis que só lá, na Javari, saboreei igual. Meu avô tinha uma venda colada ao Estádio, chamado Rodolfo Crespi. Campo pequeno, mas com uma arquitetura pra lá de charmosa, que lembrava os estádios da Inglaterra.
 
A venda era de secos e molhados. Na verdade, minha avó era quem fazia de tudo. Do famoso sorvete de ameixa, às tradicionais alheiras portuguesas que ficavam penduradas defumando e dando ar de empório antigo ao local.
 
O meu avô também ajudava, do seu jeito, tocando bandolim em frente à porta e nos domingos à tarde, assistia ao jogo do Juventus! E ele tinha uma maneira bastante peculiar... Colocava uma escada e subia na parte de trás da casa, numa espécie de laje, onde aprumava sua cadeira e sentado ao contrário, com sua camisa grená, torcia pelo “Moleque Travesso”. E o moleque adorava ganhar dos grandes, em especial do meu timão!

Era a grande diversão do vô Henrique e assunto pra toda semana na venda. Nunca perguntei se ele chegou a ver o famoso jogo entre Santos e Juventus, onde Pelé fez aquele que foi considerado o gol mais bonito de sua carreira, com uma sequência de três chapéus e toque de cabeça pra cima do pobre goleiro Mão de Onça.
 
Mais de duzentas mil pessoas disseram que estavam lá naquele domingo à tarde, na pequena Javari. Mas o meu avô, ele sim, deve ter visto...  
Lá no telhado, e de camarote!
 
Acho que minha mãe estava certa. Nada de Camp Nou, nem Champions League! Jogo bom, de futebol, aos domingos... Jogo duro de verdade e com time pequeno aprontando pra cima dos grandes, só na Javari mesmo!

E os cannolis, vira e mexe, invadem minha mente de doces lembranças.
Qualquer hora mato esta saudade!

 
           
  *               *                 *                  *                  *                   *                  *                 *

         

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O FIM DA COCADA?

                                                                                                  foto: Veja/SP
             
 Dona Jana era baiana das boas. Toda redonda. Peito boludo e traseiro avantajado, desses que levantam a saia branca quando anda. Vendia cocada na praça da Biquinha. Não tinha quem não a conhecia. Clientes, noite e dia... 

Toda de branco e fitinha do Bonfim, sabia canto nagô e pedia sempre aos orixás que abençoassem suas mãos divinas e cada filho novo, que todo ano vinha! Foram cinco doces garotinhos que ela foi fazendo, junto com quindim, paçoca e cocada queimada. E felizes foram crescendo qual fermento ao seu lado, com muito leite derramado, brigadeiros e bombocados

O tempo, porém, foi passando. O cabelo da Jana foi branqueando e a pracinha que era doce, jogada de um lado pro outro, foi se acabando... Pulando de canto em canto  e com o coração sangrando, Dona Jana e sua barraca foram aos poucos se  desmontando... 

Agora idosa e magrela, viu indo embora toda antiga clientela. Nem a tradição sobreviveu! Não veste branco e não tem mais a fitinha. Brigou com o orixá e com as novas vizinhas. Até o formato dos doces mudou na pobre e modernizada Biquinha!  

Aonde Jana foi parar? A baiana agora usa whatsapp e montou um web site! E por pura ironia, exibe seus doces em frente a uma academia... 

 Que disparate... Vende só cocadas diet!


 

 

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quarta-feira, 27 de julho de 2016

SIMPLES

                                                                          foto arquivo pessoal
 
               Ele podia ter sido engenheiro como seu pai. Ou dentista como sua mãe.
               Poderia ter sido jogador de futebol, modelo fotográfico ou técnico
               de informática. Preferiu ser chefe da delegação de Hóquei no gelo.
              
               Ele poderia ter casado com a Fátima, sua namoradinha de infância
               que se formou em pedagogia. Ou com a Sandra, sua vizinha gostosona
               que arrastava um bonde por ele.
               Ou ainda com a Marizete, ótima em cozinha mineira e carícias sexuais.
              
               Mas preferiu Olenka, uma ucraniana com 3 filhos que mal fala português.
               Nada de calça jeans e camiseta. Nem ternos elegantes. Ele usava chinelos
               e boinas, shorts com polainas, e carregava uma grande mala de pele
               de carneiro que sempre o acompanhava.
 
               Instrumento preferido: oboé. 
               Filmes: os produzidos em Singapura.
               Sexo: terças-feiras de manhã, ao som de Hermeto Pascoal ou Igg Pop.
               Mas foi no dia em que completou exatos 65 anos de idade que ele atravessou
               a rua com passos firmes, entrou na padaria em frente e enfim, radicalizou :
               - Quero algo bem simples. Pão com manteiga, por favor!
              
               Foi preso porque estava nu.


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                 E os ganhadores deste mês do livro infantil "Era Uma vez uma cosinha" foram:
                 Joaquim Ordonez e Monica Ribeiro. Mês que vem tem mais. Escreva "Eu quero"
                 no seu comentário e boa sorte!

quarta-feira, 20 de julho de 2016

O POETA CONGELADO


É incrível como, às vezes, o inverno bate gelado dentro da gente. Mais que no corpo, o inverno chega à alma. E é paralisante. O projeto que empaca. A compra da casa que não sai. A notícia que não chega. O dinheiro que não entra. O computador sem conserto que, derradeiramente trava.

Parece até que as coisas combinam. Espécie de complô. Como as lâmpadas da casa que queimam todas ao mesmo tempo. Quando é inverno na alma, não há quebras, apenas o silêncio que congela. O poeta, assim, fica mudo.

E atire uma pedra nesse lago congelado quem já não teve o seu inverno na vida. Inverno de ideias. Inverno de amores. Inverno de grana e paixões.Tempos onde andar pra frente é o que nos resta. Os melhores planos simplesmente não acontecem. E a aposta da quina não chega nem perto de um dos números marcados... Zero!

Foi num desses invernos da alma que resolvi plantar uma árvore no jardim do meu quintal. Não iria gastar nada. Só água e tempo. E em poucas semanas teria flores para apreciar. Além do mais, seria muito bom ter o que fazer às manhãs até que o emprego chegasse, o amor batesse a porta ou um cachorro me fizesse correr mais rápido....
                    
Depois de várias semanas sem florescer, voltei ao jardineiro e perguntei o que acontecia. Porque as flores não vêm? Pausadamente, ele respondeu: você plantou uma quaresmeira! Ela ainda está se preparando. Tem tempo certo de florir.

Voltei para a casa, meu delicado casulo, recolhidamente esperando, até meu coração de poeta... descongelar...


                     
                     
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quarta-feira, 6 de julho de 2016

EM CIMA DAQUELA PEDRA...

 
                         
 
Talvez eu precisasse de um olhar mais amigo e cordial...
A minha alma se inquieta quando vejo certas esculturas encravadas na paisagem natural. Mau humor, só pode ser... Ou uma certa inveja por não saber moldar um simples boneco em papel marchê.
 
Mesmo gostando da arte dos homens, a arte da natureza me parece tão absoluta, que ambas não deviam disputar o mesmo espaço. Uma em cima da outra? Dá um nó, um embaraço...
 
Nada contra a estética da obra, pois meu conhecimento miudinho se resume a distinguir os olhos e o nariz de um Aleijadinho e o vigor dos bustos de Rodin. Aos artistas, então, peço meu perdão...
 
É mais pelo local onde foram colocadas. Parecem estar sempre onde não deveriam estar. Lá no Itararé, em São Vicente, quando miro a pedra da feiticeira, rústica e milenar, cravada na areia e ungida pelo mar, vejo no topo a estátua de ferro cimenticolada a me torturar... É bonita! Mas, não tinha outro lugar?
 
Assim é também com o peixe gigante na chegada da cidade de Santos. Mistura dúbia de sentimentos... De um lado, o símbolo da volta, a alegria do retorno para o meu lar à beira mar. De outro, a presença angustiante de um peixe fora da água entre vias expressas e carros a passar... 
É lá que deveria estar? Não tinha outro lugar?
 
Tem também as cabeças gigantes da rotatória de Praia Grande. Sinto poder e medo quando as vejo. Parecem ali, em vigília... Mas ficariam melhor em Brasília!

A arte é a expressão cultural dos seres humanos e não deve ficar restrita aos museus. Deve estar integrada ao urbano. Minha cabeça concorda. Meus olhos e o coração, às vezes, não.
Imagino sempre, um Deus-criador lá do alto, olhando a estátua colada na pedra e pensando com certa ironia...  Tinham que colocar justo aí em cima?

 
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                                           Foto gentilmente cedida por Emilio Pechini
 

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                    EU QUERO!!!! ... e a promoção continua!!! Neste mês mais dois livros infantis
                   "Era uma vez uma coisinha" para sorteio. Escreva  "eu quero" no seu comentário
                    no blog e boa sorte!
 

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