Vendo um
jogo de semifinal da Champions League na tevê. Mais de cinquenta mil
torcedores no Camp Nou, quando minha mãe, do alto dos seus oitenta anos, me
perguntou: onde é esse jogo? É na rua Javari?
Respondi carinhosamente que não,
enquanto invadiam minha alma, as doces lembranças da Moóca antiga e em minha
boca eu podia sentir a doçura dos cannolis que só lá, na Javari, saboreei igual. Meu
avô tinha uma venda colada ao Estádio, chamado Rodolfo Crespi. Campo pequeno,
mas com uma arquitetura pra lá de charmosa, que lembrava os estádios da Inglaterra.
A venda era de
secos e molhados. Na verdade, minha avó era quem fazia de tudo. Do famoso
sorvete de ameixa, às tradicionais alheiras portuguesas que ficavam penduradas
defumando e dando ar de empório antigo ao local.
O meu avô também ajudava, do seu jeito, tocando bandolim em frente à porta e nos domingos à tarde, assistia ao jogo do
Juventus! E ele tinha uma maneira bastante peculiar... Colocava uma escada e
subia na parte de trás da casa, numa espécie de laje, onde aprumava sua cadeira
e sentado ao contrário, com sua camisa grená, torcia pelo “Moleque Travesso”. E o moleque adorava ganhar
dos grandes, em especial do meu timão!
Era a grande diversão do vô
Henrique e assunto pra toda semana na venda. Nunca perguntei se ele chegou
a ver o famoso jogo entre Santos e Juventus, onde Pelé fez aquele que foi
considerado o gol mais bonito de sua carreira, com uma sequência de três
chapéus e toque de cabeça pra cima do pobre goleiro Mão de Onça.
Mais de duzentas
mil pessoas disseram que estavam lá naquele domingo à tarde, na pequena Javari.
Mas o meu avô, ele sim, deve ter visto...
Lá no telhado, e de camarote!
Acho que minha mãe estava certa. Nada de Camp Nou, nem Champions League! Jogo
bom, de futebol, aos domingos... Jogo duro de verdade e com time pequeno
aprontando pra cima dos grandes, só na Javari mesmo!
E os cannolis, vira e mexe, invadem minha mente de doces lembranças.
Qualquer hora mato esta
saudade!