Páginas

quarta-feira, 28 de junho de 2017

FECHA ESSA TAMPA!


Nunca gostei de fechar nada. Tampas, portas, gavetas, canetas...
E durante muito tempo fiquei procurando uma justificativa para esse desmazelo!  Acabei encontrando... Não gosto de coisas encerradas. Finalizadas e trancadas! Armários. Cadeados. Muros entre as casas. Elas me trazem a idéia de aprisionamento. Sufoco.
Sempre, em meus melhores sonhos, imagino lugares amplos. Ambientes claros e abertos que interagem. E com muito sol, de preferência!
O espaço largo me agrada. Mas não que eu não tenha culpa em não fechar as coisas. Realmente não sou boa nesse quesito. Canetas, por exemplo... Não só as deixo abertas, como promovo uma verdadeira dança com elas. A minha vai parar na mesa do amigo. A do amigo vai para outra sala. E por assim vai...
As tampinhas? Nunca sei onde deixei. Mas que tirei, tirei. Mea culpa, confesso! E sofro por isso. Imagina a quantidade de vezes que tive que ouvir...  Fecha essa tampa! E eu vou lá quietinha, resignada e fecho. Mas não gosto, não. Imagina, então, a sensação de fechar um bar? Fechar uma festa?... nem pensar!
Gosto de partir antes de acabar. E pensar que a festa vai continuar. Ah, o inacabado, como é livre e reticente...
Por isso escolhi morar de frente pro mar, bem na garganta de São Vicente que desemboca no mar aberto... Quando a vida apertar, sempre vou ter uma saída!  
E assim, nessa mesma toada, a reencarnação me cai bem. Nada de acabar por aqui e ponto final. Voltar várias vezes seria perfeito! Viver novas vidas. Novas experiências. Outros personagens de mim, em mim mesma. E depois, sim, morrer. Por que não? Sabendo que vou voltar!
Ah.. mas por favor, na hora do caixão... não fecha a tampa !!!
*                      *                       *                        *                    *

quarta-feira, 21 de junho de 2017

LÁ NO JACARÉ


São duas as Biritibas. Não muito distantes de Mogi das Cruzes. Uma é a Mirim. A outra é a Ussú. Só isso já bastava para tornar curiosa a nossa visita à cidade que ficava a uns trinta quilômetros do sítio onde eu descansava o final de semana: Biritiba Mirim! Doce, rústica e pacata...
Quando a noite escureceu a mata e o som das cigarras já trazia um ar de melancolia e solidão, decidimos procurar algo mais alegre na cidade grande, que não era tão grande assim. Mas era sábado! Alguma coisa devia acontecer por lá...
Meia hora de carro e avistamos, do lado direito da estrada, uma grande construção. Um armazém enorme que, soubemos mais tarde, havia abrigado a Lobo’s, maior discoteca do pedaço, há anos desativada. Passamos. Não era o que a gente desejava...
Seguindo na pista, do lado esquerdo avistamos um posto de gasolina. Bem iluminado e com uma subida que dava no centro de Biritiba. Havia uma entrada principal, com um pequeno portal e arvoredo, mas chegamos pelos fundos, mesmo. A rua do comércio, toda apagada. Pequenas lojinhas de roupa, materiais de construção e ração para animais...
Aberta mesmo, só uma pizzaria. No final da rua, na praça da Igreja. Agora sim, Biritiba fervia, acesa! Paramos o carro atrás de alguns cavalos amarrados nos postes. Seus donos estavam em grupos, na frente de dois ou três bares e padarias, conversando ao som da música sertaneja. A maioria de bota, chapéu e cinto de cowboy.
Eram moços e moças, com rostos vermelhos de quem toma sol com poeira todos os dias nos campos e na roça. Era animada a prosa. Tomavam cervejas, energéticos e pinga do alambique, de cor azulada. No meio da conversaiada, encontrei o Edú, caseiro do sítio... - O que se faz de bom por aqui, amigo? E, no seu caipirês tímido, respondeu:  “ nóis tá só no esquenta, ué! Depois vai tudo pro Jacaré!”
Pegamos o carro, estacionado atrás de três cansados cavalos e seguimos em direção a saída da cidade... A casa era velha e simples. Com dois andares. Toda pintada de preto com uma luz verde na janela de cima. Saia fumaça, calor e todo estilo de mulher... No alto, a placa: Forró do Jacaré! 
Olhamos apenas e por ali paramos! No dia seguinte, o galo e as galinhas do sítio iriam nos acordar cedinho, com outros planos. Ficou a lembrança alegre e viva da pacata e nada ingênua Biritiba! 
E da noite quente... no forró do Jacaré! Ué!

*                             *                               *                              *          
                                 



CLIQUE NA IMAGEM DOS LIVROS NO ALTO DA PÁGINA
( versão web) E COMPRE O COMBO INESPLICANDO COM DESCONTO 
E PARCELADO EM DUAS VEZES.... DIRETO DA CHIADOBOOKS!

  
             

quarta-feira, 14 de junho de 2017

QUEM MANDA NA CHUVA?.


Era só eu cantar, para a chuva parar. E eu repetia baixinho... Para chuva, para... Para chuva, para... Até que ela fosse, lentamente, cessando. Eu, com meu pequeno canto, seguia acreditando dominar a natureza. Devia ter un cinco ou seis anos. Tempo de mágicas e algumas certezas...

Hoje não canto mais esse mantra de infância. Nem tenho mais os poderes de uma criança. Mas a minha relação com a chuva continua curiosa. Um misto de tristeza e louvação! 
É nos dias de inverno, frios e cinzentos, de chuvinha miúda e contínua, que minha alma se encolhe. Úmida do nariz aos pés, não faço bem o café. Nem um sambinha triste, sequer. Afino. Desafino. Tudo adio. Nada termino. Espero a chuva passar... Mas sei que as sementes explodem, contentes. E minha alma se rende à beleza e ao poder das águas correntes...  
A chuva de verão é a que mais gosto. Aquela que vem curta e grossa. Às vezes, bate nas costas. Com seus patacões quentes e esparsos. Estouram na calçada e no asfalto, refrescando o calor e o abafo. Depois, vai embora, trazendo de volta o céu azul e o sol a brilhar. Com sorte, um arco-íris vem coroar...  
Teve um dia que não consegui fazer a chuva parar... Eu cantava na janela entreaberta e a chuva, arredia e esperta, não se deixava dominar. Meu irmão mais velho chegou atrevido para o mantra desencantar. E trocando a letra com total descrença, começou a cantar... Vem chuva, vem! Vem chuva, vem!
Pois não é que a chuva voltou? Forte e intensa. Com gotas de desavença. Pingos de indignação! Que ato traiçoeiro. Chorei o dia inteiro. E foram os primeiros raios e trovões, entre dois pequenos e amáveis irmãos.
Não é bom contrariar os deuses da chuva...  Aposto que não!
  
 *                                 *                               *         
                             
                     QUE TAL PRESENTEAR OS AMIGOS COM LIVROS?

O LIVRO  FÍSICO DE CRÔNICAS "INESPLICANDO" ESTÁ À VENDA 

NA LIVRARIA MARTINS FONTES DA AVENDIDA  PAULISTA! 

DÊ UM PULINHO lÁ E PEÇA!