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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

AQUELE DRINK AZUL...


Tá certo que a família estava unida e feliz. E que as crianças eram pequenas e se contentavam em brincar de artistas mirins. Com maquiagens, microfones imaginários e imitações dos ídolos da tevê. Mas era tão bom!
Tá certo que ninguém ficava pendurado no celular, mandando vídeos e trocando mensagens com amigos de fora... Os mais importantes estavam ali. Mas aquele drink azul, unia toda a família...
E todo ano era assim. Natal na casa do irmão mais velho. Às vezes, no mais novo. Às vezes, na casa da mãe. O drink azul abria as comemorações! Lembro vagamente a receita... um pouco de soda, gin e Curaçao blue! Na borda, ia açucar. Ah, e o limão cortadinho, que não podia faltar! 
Tá certo que depois vinham camarões na moranga, da dedicada cunhada. O bacalhau português, da sogra orgulhosa. A maionese, tão leve, da mãe, feita com amor e atenção para chegar no ponto certo no liquidificador! E a noite inteira para sorrir e trocar presentes. Presentinhos. A gente não tinha lá muito dinheiro...
Ninguém reclamava nas redes. Não havia redes. E os políticos? Deviam agir como sempre... Mas não era esse o assunto. Era sempre aquele drink azul.... Mortal! E hoje, imortal. Abria o apetite e o coração! E tinha algo marinho nele. Cor de oceano profundo. Águas calmas onde a família mergulhava feliz. 
Faz um tempão tudo isso... Já não temos mais esses grandes natais na família. As crianças cresceram e passam a festa com outras famílias. Alguns casais se dissolveram. O irmão mais velho já se foi... A mãe, não consegue mais andar, muito menos fazer maionese...  
E quando a saudade aperta, eu lembro daquele drink azul... Deve ser culpa dele, essa minha vontade de chorar...   


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FELIZ NATAL!


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O ASSOVIO MORA AO LADO...


Um assovio alegre. Muito alegre. Repetido várias vezes. Por uns dias. Por meses.
Durante uma reforma infindável no meu apartamento, tive que morar por um tempo numa casa emprestada. E com um vizinho de muro colado. Jardim com jardim. Quintal com quintal. E a mesma caixa postal!
Tudo era aceitável naquele improviso temporário. Até que, no silêncio da manhã, uma alegre marchinha de exército americano alguém começou a assoviar... lála, lalalala lala, lála! Um rapaz? Um soldado? Um velho desocupado ensinando um papagaio? Dormi mais um pouco, embalada pelo assovio intermitente. 
Veio a noite. E o assovio novamente. Lála, lalalala lala, lála! Como era irritantemente contente. A mesma alegre melodia. De manhã. De noite. De repente!
Fui perguntar aos vizinhos, na esperança de mais algum descontente. Ninguém ouvia. Todos indiferentes. Toquei várias vezes a campainha do vizinho feliz, mas nunca encontrei ninguém. Olhei pelo muro. Vigiei a porta e a janela para ele não fugir. Mas não via o vizinho chegar, nem partir.
E ficamos assim... Dias. Semanas. Um mês. Dois meses. O mesmo assovio, dia e noite, feito açoite! Até que no mês de dezembro, voltei pro meu apartamento. Novinho em folha. Tão belo. E tão sem ninguém...
Estou lá há uns três meses e às vezes, bate aquela solidão. É aí que de manhãzinha, eu confesso que sinto falta. E apelo descaradamente: lála, lalalala lala, lála...
 
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

MENINOS DO SINAL




Sinal fechado. Carros parados. O menino se aproxima...

São dois olhos negros e sérios. As bolinhas em suas mãos pequenas, sobem, descem e triangulam num desenho lúdico e veloz. O menino de olhar atento, mostra sem riso o seu talento, na avenida cheia de carros à espera do sinal.

Eles vêm em dois ou três e começam o show. Jogam limões para o alto. Três, quatro limões, às vezes, cinco! Fazem malabarismos para a plateia que nem sempre quer ver. Circo sem bilheteria. Sem graça. Sem pipoca. Sem alegria. Crianças no picadeiro. Meninos semi despidos com suas habilidades nuas. Fazem circo. Pedem pão.
Por vezes erram e cessam por um instante a apresentação. Não sorriem. Nem contam com a ajuda de um bom palhaço. Seguem firmes adiante, até o amarelo aparecer e dar o sinal...
É o amarelo da gorjeta. O amarelo do sorriso amarelo do motorista sem trocados. O amarelo do sol no rosto das suas faces infantis já curtidas. O amarelo da raiva do apressado que nunca, nada consegue ver.
Olho por detrás do vidro. O menino se aproxima... O tempo é curto. Conto as minhas moedas rapidamente. São poucas, não dá um real. Amarelo de vergonha por dar sempre tão pouco. Abro a janelinha e me justifico, mas o menino não parece se importar. Não se importa com muita coisa. Não se importa com quase nada...
Na boca, o gosto azedo do limão.

Os olhos negros e sérios preparam o próximo show no sinal. Verde novamente. Sigo em frente até a próximo esquina. Mais um sinal vermelho. Mais meninos e malabares. Mais circo e picadeiro. Eles pedem atenção! 
E o sinal não para...verde, amarelo, vermelho...
Em cada esquina do meu atropelado coração.

 


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