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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

POEMA: ÚLTIMA CARTA DE AMOR

 
 
Para os leitores do blogue, que pediram... aqui está a minha participação na obra....
COLETÂNEA TRÊS QUARTOS DE AMOR DA CHIADO EDITORA
 
 
 
ÚLTIMA CARTA DE AMOR

Não plagiarei os grandes poetas.
Nem falarei que são ridículas todas as cartas de amor.
Não direi que as rosas não falam. E que simplesmente exalam,

o perfume que roubam de ti...
Também não farei um só verso. Nem poema. Nem canção.
Não rimarei dramas e camas. Paixão com solidão!
Miro a profundeza do coração.
Na minha última carta de amor, escrita com tremores às mãos,
apenas rabiscarei: Vem!
E olharei eternamente a lua.
E restarei sem vida.
Até que chegue uma resposta tua!

 


Inês Bari

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Coletânea " Três Quartos de um amor", lançamento da Chiado Editora.
Para adquirir a obra, acesse o site:







 

 
 
 

 
 

 


SEM EIRA, NEM BEIRA..


                   
Visitar um casario histórico colonial tem, para mim, um efeito mágico. Traz à tona, na minha alma antiga ou na simples imaginação, algumas verdades enterradas no solo do Brasil.
Em cada parede de pedra, conchas e sambaquis, salta a energia dos antigos moradores, além dos gemidos de escravos nas casas de masmorras no porão, que servem, hoje, de restaurantes locais, com ótimos peixes e a famosa ostra da região...
E assim foi, a rica e desbravadora visita à bela cidade de Cananéia, no litoral sul de São Paulo, chamada de “ Cidade ilustre do Brasil” e muito parecida com Paraty no Rio de Janeiro... Cananéia foi o primeiro povoado brasileiro e segundo historiadores, Cosme Fernandes, o Bacharel de Cananéia, já estava por aquelas bandas antes mesmo de Cabral.
Anos mais tarde, foi fazer o seu comércio em São Vicente, a primeira Vila do Brasil, onde foi expulso por seus atos cruéis e desleais. Homem mau esse tal Bacharel... Mas Cananéia, jamais!
Lá tem ar simples e bom. A maioria das casinhas coloniais está conservada. E dá pra ver no telhado das casas, a divisão social daqueles tempos. Os ricos construíam o telhado de suas casas, com eira, beira e tribeira! Os mais pobres... Nem eira, nem beira! Daí a expressão que retrata alguém sem posses. Sem ter onde cair morto... Cuja casa só tem telhado. Sem eira, nem beira! A maioria é gente simples mesmo, como os pescadores do local...
Conheci um morador que nos levou para conhecer o sítio do Cardoso...  Lá a gente chega e escolhe o peixe que vai comer no almoço. Feito ali mesmo. No fogo. Escolhemos paraty e peixe galo. E saímos em direção à trilha de bromélias e araçás que levava até o mar.
A praia rústica com armadilha indígena feita de gravetos para pegar peixes e os golfinhos no mar, davam a moldura exata da natureza preservada. Foi lá que uma linda  tartaruga marinha veio nos cumprimentar e dar boas vindas!
Na volta, o peixe já frito, a cachaça forte de cataia e o pescador de camarões contando causos do mar... Tudo simples a valer. Como a gente bem poderia ser.
Sem besteira! Sem eira. Nem beira...
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 Rua Tristão Lobo, Cananéia 


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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A VITROLA E O PALHAÇO TRISTE...


 

Cada móvel da casa da minha mãe escondia uma lembrança. E um tanto de poeira...

Em seus noventa e um anos, pelos menos nos últimos cinquenta, ela conservou os mesmos móveis. Fortes e clássicos. Não por simples apego, mas porque cada um trazia em si uma história. Além da frágil sensação de  território seguro.

Na sala, uma rádio-vitrola. Móvel grande. Todo em jacarandá. Valvulado! Que ainda funciona e nos remete ao primeiro compacto que ganhamos com selo vermelho e a música Vênus do Shocking Blue. Mais tarde, um compacto dos Beatles com a maçã cortada ao meio e a música Revolution. Ouvíamos bem alto, os quatro cabeludos que queriam mudar o mundo.

Pouco depois, minha mãe ganhou o LP “Italianíssimo” que rodava de manhã até de noite e reforçava nosso sotaque italiano, próprio de uma família que nasceu na Moóca e cresceu no Brás, há muito tempo atrás. Em cima da vitrola, uma estante com livros dos grandes filósofos. Lembrando que depois de criar os filhos, Dona Olga criou asas e decidiu estudar. Entrou na Usp em “filosofia pura” em oitavo lugar... 

Os livros continuaram na estante e são muitos. Agora, azuis esbranquiçados. Todos gastos e com capa manuseada. Além de anotações e sublinhados, resultado de quem leu e releu inúmeras vezes cada página. Muito embora, com o tempo, ela não tivesse mais sequer noção de quem foi Nietzche ou Platão.

Tinha também as lindas mesinhas na sala de estar, com as laterais de pés fininhos e  delicados, retrato dos anos dourados. E finalmente, uma poltrona berger, com um discreto corte no tecido fino, escondido por uma almofada de veludo vinho.

Mas o que mais me chamava a atenção e ainda me comove, além de todos os móveis, era o quadro do palhaço triste em cima do piano, no quarto da televisão. Triste, sim. O palhacinho pintado. De gola larga. Um quase sorriso na boca e uma melancolia nos olhos emoldurados.

Lembrava, para mim, o doce-amargo da vida. Paralelo de minha mãe e seus noventa e um anos. Lado a lado com a amargura de não mais poder caminhar sozinha nas ruas. Mas que pintava o rosto todos os dias para nos dar alegria... e mostrar que seguir adiante, muitas vezes, é uma arte!

Dona Olga, sempre nos fará sorrir... 

                                
                                           foto: arquivo pessoal


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