Páginas

quarta-feira, 25 de abril de 2018

TÊNIS E PARDAIS...


Manhã bela. Abri alegre a janela. A estranha visão me desconsertou. Sol entre as nuvens e um par de tênis cinza imundo pendurado no fio de alta tensão. Ao lado, dois lindos pardais confundindo minha visão e a paisagem da janela que deveria ser somente azul e bela.
Algum moleque mais velho lançou para o alto o tênis de um pequeno? Uma espécie de bullying perigoso e certeiro? Mas não existem tantos moleques malvados por aí. E os tênis estão por toda parte nos fios de muitas cidades. Pendurados pelas ruas e esquinas. Guardo essa lembrança de menina.
Foi um arremesso perfeito. Amarraram os cordões do tênis e giraram até se enrolarem no fio por inteiro. Quem conseguiu, ganhou o prêmio! Mas tênis são caros. Quem brincaria assim? Diante das dúvidas e o Google à mão, descobri que esta prática vai além da simples brincadeira. Por detrás, tem muito fio e muita teia.
Dizem que a prática começou com a máfia nos Estados Unidos há década atrás. Indicava os territórios demarcados por bandidos ou marginais. A chamada “área dominada”. Diante da descoberta nada engraçada, parei de investigar.
À tarde a minha esperança era que tivessem chamado a companhia elétrica. A prefeitura ou o homem aranha para a façanha de tirar o par de tênis da frente da janela.                                                                                    Nada aconteceu. Lá ficou o par cinza e imundo, estragando o meu plano de fundo. E hoje, por ironia, dois canários da terra pousaram para lhe fazer companhia! 
Se aqueles pássaros falassem, diriam que somos tolos jogando tênis ao léu! Mas pássaros são divinos. Não falam, nem usam tênis. Usam asas. E é deles o céu! 


*                                 *                                                                


                     *Matéria sobre os tênis pendurados. Link abaixo.



terça-feira, 17 de abril de 2018

SOFIA... QUEM DIRIA!


 Os dois seios enormes da mulher balançavam dentro do decote à medida que ela caminhava. Trôpega, saindo pelo portão de ferro em direção à rua. O salto quinze, de pelica, em uma das mãos. E um longo vestido que arrastava papeis amassados, tampinhas e bitucas de cigarro. A barra dupla, já meio suja, rente ao chão...


Partiu ziguezagueando pela calçada no meio da madrugada num bate papo interior e solitário. Alcoólico. Hiperbólico. Melancólico... Na boca, risos, lágrimas e borras de batom. É a Dona Sofia! Ela tem saído assim nas últimas semanas, depois da separação, completou o porteiro do clube noturno, com ar de compaixão. Fui acompanhando o seu trajeto mambembe pelas ruas desertas, imaginando os estragos do desamor... 

Talvez, um casamento de conveniência. Uma relação de muitos anos, com grande apego financeiro. Briga por dinheiro! Ou, a descoberta de uma amante mais jovem. Uma mulher. Quem sabe, um homem? Ou nada disso. Apenas um porre! Para afastar a solidão de nunca ter encontrado um amor desenfreado. Desses de tirar a roupa e os sapatos depois de inúmeras tentativas frustradas e apostas em pessoas erradas. 
A mulher cambaleante seguiu até virar a esquina e sumir. Na rua e no meu pensamento. Coisa de momentos. 

Na semana seguinte, saindo do médico, encontro a Dona Sofia... Andar reto.Terno tubinho, todo fechado. Scarpin baixo. Figurino fino. Cumprimentou brevemente a secretária, deixando o consultório com seus óculos meio grau e ar profissional.

Perguntei quem era, só pra me certificar... Dona Sofia! Ela é terapeuta de casais! Conserta a vida amorosa de todo mundo... 

Dona Sofia, balbuciei baixinho... quem diria?



*                                *                                  *                                      *
       

DÊ LIVROS DE PRESENTE NESTE NATAL!
COMPRE O COMBO INESPLICANDO VOL1 E VO2 N ESTANTE VIRTUAL
NA CHIADO BOOKS
OU PEÇA DIRETOPEÇO 13 997754072 E RECEBA EM CASA COM DEDICATÓRIA!



quarta-feira, 4 de abril de 2018

O LADO ESCURO DO TÚNEL

                            
                        Foto:  A Tribuna
Larguei meu carro na garagem. E tem sido assim, semanalmente, desde que virei fã do Veiculo Leve sobre Trilhos, o VLT, recém chegado ao litoral paulista, ligando as cidades de Santos e São Vicente.
Rápido. Moderno. Ar condicionado no ponto. E aquele aspecto, ainda, de novo. Nele se vê a cidade com todas as suas multifaces e contrastes vis. A periferia. A singeleza das casinhas modestas. O piche. A sujeira. O caos...
Um vão por onde se vê a praia. O mar. A areia. A beleza do entardecer. E no fim do túnel, a cena que ninguém quer ver...
A primeira vez que passei pelo túnel percebi que todos os olhares se voltavam para as janelas daquela estação. E o que se via, eram seres vagando. Em bandos. Homens. Mulheres. Adolescentes... Aparentemente dormentes. Amontoados na pequena calçada lateral.
Alguns fumavam. Outros dormiam. Outros somente caminhavam. Seguiam rente aos trilhos. Sem noção. Nem direção. O VLT passa bem veloz. E em poucos segundos, cada um no seu mundo, a trabalho ou a passeio, sai do túnel do pesadelo e segue até a sua estação.
Vejo semanalmente os pobres moribundos. Craqueiros. Prisioneiros do estranho mundo. Escuro, viciado, profundo... E eu até já reconheço alguns deles. A moça de cabelo loiro emaranhado e olhos azuis. O rapaz de blusa listrada. O velho de calça rasgada. E o da blusa escrito Rollingstones!
Eles se afundam todos os dias no túnel. E não sentem o trem passar. O VLT passa ligeiro... A vida também. A esperança é quem nos reconduz.
Enquanto os seres do túnel seguem em direção contrária. 
Cada vez mais distantes da luz...


*                             *                                    *                                         *

OBRIGADA PELA VISITA!
E VEM NOVIDADE POR AÍ...  
EM BREVE : A PÁGINA OFICIAL DO "BLOG INESPLICANDO" NO FACEBOOK!  COM SURPRESAS E PARCERIAS! AGUARDE...